Que o mundo onde vivemos nos últimos anos tem sido uma verdadeira montanha-russa não é novidade para ninguém. Mas o que podemos fazer, hoje, para criar caminhos mais seguros daqui para frente? É o que se perguntam muitos empresários. Desde 2008, quando a crise financeira mundial detonada pelos empréstimos imobiliários estadunidenses, conhecida como subprime, chacoalhou o mundo e nos colocou em estágio de constante alerta, muito se fala sobre “onde estamos” e “para onde vamos”.
Só que, de lá para cá – se você não é tão jovem a ponto de não se lembrar – tivemos, do lado externo, mudanças na forma de se governar (em alguns casos até de ideologia política) nos Estados Unidos, Europa e América Latina, o crescimento “chinês” de economias emergentes, principalmente as asiáticas; a digitalização total de processos e tokenização de ativos; grandes valorizações e desvalorizações de moedas fortes como o dólar e o euro e muito mais.
Já do ponto de vista interno, passamos por mudanças significativas em formas de governar, com um impeachment no meio do caminho; criação de novas leis, maior preocupação com a destruição da Amazônia, operações contra corrupção, empresas surgindo como unicórnios digitais, queda sensível no número de IPOs (ofertas públicas iniciais de ações, na Bolsa de Valores) e alguns ativos atingindo múltiplos expressivos enquanto outros viraram pó, como o caso de “Empresas X”, entre outras.
Dentro de todo esse liquidificador estamos nós, empresários, empreendedores, consumidores, varejistas, comerciantes e consumidores, que buscam caminhos para entender como criar a melhor estratégia para continuar andando de maneira firme e forte neste País de extremos. O que fazer?
Analisar o cenário é um bom começo.
Só que, como recomenda sempre a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), resultados passados não devem ser garantia de resultados futuros. Portanto, é hora de aprender com o que passou e entender, olhando para frente, como traçar nossos próprios caminhos.
Segundo o especialista em economia Alessandro Azzoni – que também leva em seu currículo os títulos de advogado, professor, especialista em Direito, Mestre em Engenharia Ambiental, ESG e Sustentabilidade, Conselheiro da Associação Comercial de São Paulo, presidente da Comissão de Relações Institucionais e Direito Ambiental da OAB São Paulo – começamos a entender melhor um caminho adequado para nossas empresas e para as nossas vidas quando passamos a enxergar que tudo está conectado. A palavra-chave, portanto, é conexão.
“Quando fazemos uma análise do cenário macroeconômico, ou seja, de tudo o que impacta a economia do Brasil, temos que levar em consideração os cenários interno e externo. E isso afeta não só os rumos enquanto nação, mas o dia a dia das pessoas. Um exemplo: a gente vai aos supermercados e vê que o preço da carne está alto. Algumas pessoas levam em conta só a inflação da carne, mas não é assim que funciona. Não é porque um produto é importado e o preço do dólar subiu que ele fica mais caro na gôndola. Ou porque os produtores querem, por exemplo, uma margem maior de lucro no seu produto. A subida do preço da carne é um reflexo sistêmico da alta de commodities como milho e soja, que são base da ração animal, do preço dos combustíveis para logística, das mudanças climáticas, das condições de criação, das condições de abate, de como está o estágio da pandemia no Estado onde há esse processo (por exemplo, se a empresa funciona normalmente ou está com restrições de acesso), preço do pedágio, preço da energia elétrica, se está chovendo o suficiente para uma pastagem de qualidade… Tudo está interligado”, explicou o economista.
Montanha-russa do mercado
As empresas precisaram se adaptar a todas as realidades possíveis na hora de criar seu plano estratégico, explicou Azzoni. E quem não conseguir entender essa conexão está, infelizmente, fadado a sofrer alguns problemas.
Segundo o economista, se olharmos os últimos anos só pelos números frios de PIB (Produto Interno Bruto), inflação e desenvolvimento econômico, veremos que o Brasil avançou demais antes da pandemia. E, claro, assim como o mundo todo, passou por momentos complexos entre 2020 e 2021. Mas não é só nos números que se avalia uma situação macroeconômica. É preciso ir mais a fundo na análise para entender se estamos em um momento bom ou em situação de atenção.
“Um dos fenômenos que enfrentamos foi a da análise de risco-retorno que um investimento em ativos tinha em relação ao investimento em empreendedorismo. Explico melhor. Se um investimento dá um retorno de 14%, por que vou arriscar meu patrimônio abrindo uma empresa em um ambiente que pode não me dar esse retorno?”. Aqui, por exemplo, já haveria impactos no número de empregos, de renda, de investimentos em infraestrutura, transporte etc. Entendeu como tudo se conecta?
Tirar o pé do acelerador
“Quando tivemos o subprime, lá em 2008, o governo brasileiro viu que era a hora de tirar o pé do acelerador nas exportações e focar nas vendas para o mercado interno, incentivando a economia daqui. Isso aconteceu com a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para o setor automotivo e bens de consumo duráveis, como construção civil e bens de capital. Com isso, muito do que seria vendido para o exterior acabou indo parar aqui. Foi um processo que teve impactos positivos para alguns segmentos e negativos para outros, por isso é que sempre preciso levar em conta o que você faz e o que vai acontecer depois. Cada ação gera uma reação”.
“Em economia nada acontece por acaso. É mais ou menos quando você tem um cobertor e puxa de um lado e ele estica do outro. Você pode incentivar o consumo de um lado, mas a inflação pode aparecer de outro. Você pode criar mecanismos aqui e ver que eles não funcionam ali. E, especificamente sobre a inflação, não é preciso nem falar muito o que ela está fazendo com os preços. Quando você sai à noite para tomar um gin, por exemplo, antes pagava R$ 25 e agora paga R$ 50. Sai para jantar e, no mesmo lugar onde antes pagava R$ 100, agora paga R$ 200”.
Isso tudo também reflete no momento de reabertura da economia após a pandemia, pois há uma demanda reprimida muito grande no mundo todo.
“Quem poderia imaginar que, numa hora estaríamos numa pandemia e, na outra, haveria uma guerra com consequências e sanções”, comentou Azzoni.
“Por isso temos que pensar muito bem no que queremos comprar, onde queremos investir e de que forma vamos conduzir nossos negócios. Não só olhando para os preços de commodities ou ativos, mas pensando em qual Brasil teremos no fim do ano, afinal, não podemos nos esquecer de que devemos passar por um período eleitoral bem disputado”.
Eleições 2022
Conforme Azzoni, mais do que entender se o candidato X ou candidato Y poderá governar o nossos País com competência, é preciso entender o plano de governo que está por trás daquela figura. “Enquanto nós, brasileiros, continuarmos votando na pessoa e não no plano de governo, continuaremos a ser dependentes das pessoas em quem votamos”.
“Por isso é que precisamos pensar num todo. Você lembra em quem votou para deputado federal? Para senador? Então… Tudo o que um presidente faz, independentemente de quem quer que seja, precisa passar por esse time. Por isso, eleitor, vote consciente. Conheça quem é o candidato, pesquise, se informe por meio de fontes confiáveis, cuidado com as redes sociais, pois elas estarão – cada dia mais – cheias de fake news; conheça o Plano de Governo, veja quem é que vai, realmente, atender suas necessidades depois de eleito. A palavra de ordem é consciência. O voto é seu, portanto, a consciência de escolher X ou Y ou Z tem que ser sua”.
Alessandro Azzoni realizou, recentemente, uma palestra exclusiva para os integrantes do Daniele Banco, e mostrou onde estávamos, onde estamos e para onde vamos, reforçando que o Brasil está em um caminho promissor. Porém, ainda é preciso prestar atenção em tudo o que está acontecendo ao nosso redor para tomar as melhores decisões não só em nossas empresas, mas em nossas vidas.
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